sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Noites

Têm sido difíceis as noites, a chuva continua a cair e eu continuo a ouvi-la, a vê-la e a senti-la. Ainda existo, apesar da loucura se ter apoderado dos pensamentos mais insanos a cada doloroso e arrastado segundo que julgo ainda viver. Deito-me em cima dos lençóis e imploro por uma noite de descanso sem a consciência da tua importância.

Beijavas-me, um beijo como os de antes quando só com um beijo o mundo lá fora deixava de existir. A pele arrepiava, os sentidos apuravam-se e as almas dançavam entre os ecos daquela união. Éramos nós ali, os nossos corpos entrelaçados, quentes e vivos, os nossos sonhos, as nossas fantasias, os nossos segredos... Éramos nós ali, no nosso mundo.
Num repente, a música mudou, como os teus olhos, frios, indiferentes, distantes e desistentes. Hipnotizaste-me levantaste-te e foste embora.

Esperei dias, noites por um sinal, uma procura tua, uma luta... e tu? Desistis-te!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Vazio

Cerca-me o vazio onde se ouve a chuva que deixo cair no meu rosto pálido e quase apagado de vida. Falta-me a adrenalina das loucuras que deixei de viver, das sensações que deixei de sentir. Faltam-me os tremores que antecediam a tua chegada, vagarosa, serena mas carregada de emoção... e o que sou eu sem isso? Uma música sem ritmo, um livro sem uma história, uma expressão sem um sorriso... Não é o que eu sou!
Deixo que todos os meus sentidos se alimentem deste momento, quase sinto as notas musicais escorregarem-me pela garganta, o seu sentido a embriagar-me a alma, a sua emoção a sufocar-me o peito. A saudade. Chega a ser bom senti-la assim, carregada de significado, iluminada pelos relâmpagos e misteriosa...
Ainda sinto pequenos pedaços dos destroços com que me deixaste, difusa em pensamentos repletos e cautelosamente pormenorizados da poesia que construímos, e dos parágrafos que ficaram por terminar.
Escondo-me nas minhas palavras, tentando expressar os sentimentos que não sei compreender. Onde ficaram os sonhos? Onde se perdeu a inocência que me fazia desejar, que me fazia reagir cada poro da pele ao mais insignificante estímulo que se cruzava com o meu corpo ainda quente?
Não sei já que desculpa inventar para viver um pouco mais... A minha alma grita, enquanto a minha voz se abafa entre recordações pragmáticas e longínquas. Convinha-mos, eu dei já tudo o que sabia dar, resta-me reinventar um resto de dias em que não me limite a deixar as horas passar.